A taça do mundo, de fato, pode ser nossa


          É impressionante a capacidade de Neymar como jogador de futebol. Ainda que a grandiosa habilidade do camisa 10 brasileiro não seja novidade para os apaixonados pelo esporte no país, basta um bom lance do craque para que um espanto misturado com euforia tome conta de cada torcedor da seleção nacional. É notável, também, como o ex-santista dá o troco na mais redonda bola quando é alvo de faltas violentas, provocações e até mesmo agressões. Talvez seja esse o ingrediente que fez o atacante comer a bola contra Camarões. Certo mesmo é que Neymar acabou com o jogo, marcando dois golaços e aplicando dribles e jogadas que só faz, quem sabe.

          Os tentos somaram-se aos dois marcados pelo jogador na partida contra a Croácia, totalizando quatro bolas na rede já em sua primeira Copa do Mundo. O genial Ronaldinho Gaúcho, em suas duas participações em mundiais, marcou dois gols, número que Messi precisou de um jogo de sua terceira copa para atingir. Cristiano Ronaldo, titular de Portugal em 2006 e 2010, fez dois gols nessas participações. Os números de Neymar falam por si só. Aos 22 anos, o brasileiro pode ser legitimamente chamado de gênio, e prova isso ao desempenhar o mais belo futebol, mesmo ao carregar a incalculável pressão de ser o principal nome e a esperança de o país mais vezes campeão do mundo levantar, em casa, a taça pela sexta vez. Soma-se a isso ao fato deste ser seu primeiro mundial. Não é mole, mas o jovem não está sozinho.

          Segundo melhor jogador do Brasil na fase de grupos, Luís Gustavo deu o passe para o primeiro gol de Neymar contra Camarões, após desarmar um adversário, conduzir a bola por alguns metros e cruzar rasteiro e de forma precisa para o camisa 10 abrir o placar. O volante, apesar de sua aventura ofensiva na jogada do gol, é o cão de guarda da defesa brasileira, jogando a frente da dupla de zaga. Mesmo sendo meio campo, faz parte do bloco defensivo da seleção, e suas fantásticas atuações como marcador faz qualquer meia ofensivo torcer para não enfrentar o Brasil, só para não ter a difícil missão de passar o incansável camisa 17.

          Seu companheiro na linha de volantes, porém, não está bem. Paulinho foi substituído por Fernandinho no segundo tempo da partida contra Camarões. A imensa melhora na equipe brasileira se deve à alteração. A função tática da posição é de enorme importância para haver um peso morto em campo. A responsabilidade de fazer a transição entre meio campo e ataque, carregando a bola e fazendo passes incisivos, compartilhando tanto ações ofensivas como defensivas, não pode ser ignorada. Quando o Brasil finalmente teve um atleta desempenhando tais obrigações, a significativa mudança até resultou em uma melhora substancial, além de dois gols: um do próprio Fernandinho, e um do criticado Fred, que ganhou novo folego após desencantar.

          Classificado para o mata-mata, o Brasil tem grandes chances de ir longe e acabar por vencer a competição. Felipão provou que sabe a hora certa de mudar, tirando Paulinho do time e recuperando a moral de Fred, que só marcou seu gol porque não foi sacado da equipe. A escalação de Fernandinho, porém, é essencial para a evolução do time e para a vitória contra o Chile, nas oitavas-de-final de sábado. Com o apoio das arquibancadas, mudanças pontuais sendo feitas na equipe titular e Neymar jogando o que sabe, não há outra equipe com mais chances de erguer o troféu do que o Brasil.
Read More

Está tendo Copa



        Da África do Sul pra cá, o futebol girou um ciclo completo em torno dos fãs do esporte e desembarcou seu mais importante torneio em solo brasileiro.  Mas enquanto a fase de mata-mata da Copa do Mundo não chega, a torcida vibra - e se preocupa - com o grupo A. Pela primeira partida da chave, e também da Copa, o Brasil mostrou força para ganhar a partida após sair atrás no placar, com um infeliz gol contra do lateral esquerdo Marcelo. Estrear em casa, na tão aguardada Copa do Mundo e sob desvantagem é pressão suficiente para se misturar à emoção trazida pelo hino nacional, entoado à capela pelo estádio inteiro antes da bola rolar, e complicar a atuação do time. O Brasil, porém, com ajuda do juiz ou não, foi capaz de tomar conta da partida com as próprias pernas e quebrar a defesa da Croácia, equipe que se trancou após obter a vantagem e apenas saia nos contra-ataques.

      O Brasil, mostrando maturidade, virou a partida. Neymar fez o que se espera de um craque e chamou o jogo, marcando dois gols - sendo o primeiro fruto de bela jogada individual. O camisa 10 se igualou a Ronaldinho Gaúcho em gols em Copa do Mundo, e Messi precisou de um jogo desta Copa, sua terceira na carreira, para alcançar a marca de Neymar. A confiança, porém, ainda não era lei entre a torcida brasileira. E não foi com o México que está veio, também. Um 0 a 0 foi abrigado pelo Castelão, em Fortaleza, no embate entre as seleções mexicana e brasileira. A partida explicitou que Paulinho e Fred ainda não vieram para a Copa, fazendo o Brasil se virar mesmo com pesos nulos em posições de grande importância no esquema brasileiro.

        Paulinho é a única peça do meio-campo entre Luís Gustavo - de Copa impecável até agora -, o cão de guarda que só tem obrigação de marcar, e a linha de três homens que coordena as jogadas ofensivas.  É dele a responsabilidade de fazer a transição, carregar a bola, desafogar o jogo e ainda aparecer como homem surpresa na área. Tantas funções não podem ser ignoradas, e se o ex-corintiano não disser para que veio, há Ramires e Fernandinho no banco, só esperando o chamado de Felipão. Fred joga a frente, no time titular, de Hulk, Oscar e Neymar. Os três nomes, principalmente os dois últimos, quebram o argumento de quem exime o camisa 9 de culpa por ''a bola não estar chegando nele''. O centro avante deve se movimentar para achar espaços na costa da defesa e receber bolas em velocidade. Jô, em um lance contra o México, já fez mais do que Fred na partida toda, neste quesito. O reserva, porém, está longe de ser o atacante dos sonhos do Hexa, mas sua escalação pode ser de bom grado se o ídolo do Fluminense continuar imóvel no comando de ataque brasileiro.

   Contra Camarões, nesta segunda-feira (23), o Brasil não deve encontrar maiores dificuldades para encontrar uma fácil vitória. O último jogo da fase-de-grupos deve, ainda, trazer confiança para a torcida brasileira. Felipão, porém, tem de usar o jogo como uma chance de observar a atuação de alguns de seus jogadores que ainda não estrearam no mundial. Em um campeonato de tiro curto, deve se dar passagem a quem vem do banco, se for para o bem geral da seleção. Que Scolari saiba o que se deve fazer antes que seja tarde.
Read More

Bósnia ficará no Guarujá, mas não vem à passeio para a Copa


Só com o país sediando uma Copa do Mundo de futebol é que a população pode ter noção do que envolve receber um evento esportivo deste tamanho e importância. Entre os vários aspectos de organização que cabem à nação e não exclusivamente à FIFA, há as chamadas sub-sedes, cidades escolhidas para recepcionar, oferecendo hospedagem e local de treinamento, para uma ou mais das 32 equipes nacionais que disputarão o torneio no Brasil.

Guarujá não ficou fora dessa. O município, que recebeu a visita de delegações sul-coreana e suíça, por exemplo, foi confirmado, ainda no ano passado, como sub-sede da Bósnia e Herzegovina, única seleção estreante em mundiais que vem para o Brasil. A inexperiência da equipe em copas, porém, passa longe de significar que a seleção bósnia não consiga um bom desempenho na competição.

Com o quarto melhor ataque das eliminatórias europeias e com apenas seis gols sofridos, a Bósnia liderou o grupo G da fase classificatória do velho continente.  A chave, do qual também fazia parte a Grécia, que conseguiu vaga para a copa através da repescagem, não possuía uma campeã mundial, fato do qual os dragões souberam tirar vantagem. O grupo dos europeus na Copa do Mundo, porém, possui uma seleção campeã do mundo, e trata-se de uma bem conhecida por brasileiros. A Argentina faz seu primeiro jogo na copa contra os bósnios, no Maracanã. O adversário e o palco são uma honra para a estréia dos únicos caçulas desta copa, que tem chance de surpreender os rivais brasileiros. Irã e Nigéria completam o grupo, o que deixa a seleção que treinará no reformado Estádio Municipal Antônio Manuel Fernandes em boas condições de passar para a próxima fase logo em seu primeiro mundial.

Toda essa confiança no plantel bósnio tem seus fundamentos. Onze jogadores dos vinte e três convocados da seleção européia jogam nas principais ligas do velho continente. Sete na Alemanha, dois na Inglaterra e dois na Itália. Os outros doze atletas se dividem entre Sérvia, Croácia, Turquia, Ucrânia e China, além de Turquia e Áustria.

Da lista final bósnia, quatro jogadores merecem destaque. Qualquer relação dos atuais dez melhores centroavantes do futebol mundial sem Edin Dzeko, campeão inglês com o Manchester City, é inválida. O atacante tem calibrado faro de gol e é o matador que sua equipe pode contar para alterar o placar nos jogos da Copa do Mundo. No outro lado do campo, Asmir Begovic, que também disputa a liga inglesa, pelo Stoke City, é um bom goleiro que disputa uma liga muito mais competitiva que Júlio César, titular da seleção brasileira, por exemplo. Miralem Pjanic, desde 2011 no Roma, acabou de renovar seu contrato com a tradicional equipe italiana até 2018. O bom meia divide a armação das jogadas com Zvjezdan Misimović. Hoje na china, o camisa dez da seleção bósnia tem em seu currículo dez temporadas no campeonato alemão.

Comandados por Safet Susic, ex-jogador da seleção bósnia, o que confere respeito ao treinador e mais patriotismo à seleção, a simpática e estreante Bósnia tem tudo para fazer uma boa Copa e sair do Brasil trazendo orgulho nacional na bagagem. Que o banho de mar nas praias da Pérola do Atlântico e o apoio e a recepção do povo guarujaense inspirem os dragões a fazer bonito em terras nacionais. E ganhar da Argentina no Maracanã.
Read More

O ‘‘erro’’ de Rosberg


O clima na equipe Mercedes de F1 estava muito tranquilo para assim permanecer. Dominante na atual temporada da categoria máxima do automobilismo, os carros da equipe alemã lideraram todas as voltas dos seis grandes prêmios até agora disputados, colecionando todos os troféus de primeiro colocado das corridas deste ano. A situação é cômoda para os fãs da equipe, que cansam de ver a flecha de prata ganhar, estabelecendo um início de temporada que Sebastian Vettel, atual tetracampeão, nunca teve o privilégio de vivenciar. Nico Rosberg e Lewis Hamilton, porém, começam a dar sinais do desgaste promovido pelo fato de um carro da Mercedes ser a única competição que ameaça o outro carro da Mercedes.

A partir do momento que se evidenciou o domínio da equipe germânica, um verdadeiro bombardeio da história de Rosberg e Hamilton juntos foi promovido pela imprensa. Os atuais líder e vice-líder do campeonato de F1, respectivamente, até competiram juntos no kart, quando ainda estavam bem longe de ter uma habilitação, e mais distantes ainda de dividir o Box de uma grande equipe de fórmula 1. A Mercedes aproveitava a onda, e divulgava peças publicitárias que mostravam sua dupla de pilotos sorrindo e brincando entre si. Aí chegou Mônaco.

Ao melhor estilo do seu compatriota Michael Schumacher, que tem a frase ‘‘continue lutando’’ seguida de seu nome estampada no carro da Mercedes – desejo o qual esta coluna compartilha, bem como sua total recuperação – Rosberg ‘‘errou’’ em sua última volta lançada da sessão classificatória do Grande Prêmio de Mônaco, saindo da pista. A primeira posição, devido à volta anterior, era sua, e não mais seria se Hamilton completasse sua volta rápida, ao que tudo indica. A bandeira amarela causada pela escapada de Nico, ironicamente, o garantiu a comemoração da pole position após o treino, enquanto o rosto de seu companheiro de equipe não escondia o incômodo causado pela situação.

As aspas de Hamilton no dia seguinte também denunciavam a nova situação da Mercedes. Para citar apenas uma, Lewis disse ‘‘gostar da maneira que Senna lidou’’, referindo-se ao embate Senna-Prost, que dispensa mais comentários ao definir até onde pode chegar um confronto entre pilotos de uma mesma equipe, sugerindo que o leite cor-de-prata da Mercedes pode azedar a tal ponto. O que é certo, porém, é que o clima na virtual campeã de construtores de 2014 não é mais o mesmo. O verdadeiro paraíso entre os dois pilotos que foi o início de temporada terminou, e Mônaco tem tudo para se confirmar como o divisor de águas entre uma boa relação de amigos que passam a ser somente companheiros de equipe.

O domínio da equipe alemã é tão grande, que uma muito potencial guerra não deve evitar os títulos da equipe e de um de seus pilotos, mas o campeonato de F1 de 2014, antes monótono, ganha um ingrediente que o torna um dos mais atrativos dos últimos anos. Caso o embate se confirme, não será possível prever o que cada corrida reserva na disputa pessoal dos dois pilotos da flecha de prata, ainda mais com a última etapa do ano valendo o dobro dos pontos. A Mercedes que não se meta a tentar um ‘‘jogo de equipe’’, dando ordens aos seus pilotos. Até porque, não há dúvidas de que estas serão prontamente ignoradas. Sorte do telespectador.
Read More

Nos pés de vinte e três


Felipão escalou sua seleção. Foram anunciados os 23 nomes responsáveis por tentar manter no Brasil a taça do mundo, dando o hexacampeonato ao país cinco vezes campeão da Copa. Ao assumir, Scolari pegou a equipe nacional sem uma base definida, e longe de existir uma lista com boa parte dos nomes garantidos no mundial. Já na Copa das Confederações, pouco tempo depois do início de seu trabalho, o experiente treinador conseguiu não só formar o time titular da Copa de 2014 como recuperou – ou encontrou – jogadores como Fred, centroavante que Mano Menezes tardou a convocar frequentemente. Definiu, também, a dupla de volantes, formada por Luis Gustavo, não lembrado pelo ex-técnico, e Paulinho, que sai pro jogo e marca como poucos. Neymar nunca jogou tão bem pela seleção como sob o comando de Felipão, Oscar carimbou sua passagem, apesar de ter trocado o número da camisa com o craque do Barcelona, e até Hulk deixou de ser constantemente criticado pela torcida.

A diminuição das criticas é um dos pontos de maior relevância trazido por Luiz Felipe Scolari. A história do treinador no futebol o conferem respaldo necessário para haver menos dúvidas sobre o trabalho que se conduz na seleção. Deixou de existir o clima de incerteza que era comum na época do atual técnico do Corinthians, devido à falta de conquistas em sua ‘‘gestão’’ e pelo fato de aquele ser seu primeiro trabalho com uma equipe nacional. Nenhum desses fatores sobreviveu à parceria Felipão-Parreira.

Mas nem a quase certeza da lista final, o título da Copa das Confederações e as costas largas de Luiz Felipe excluíram certa polêmica na relação dos 23 nomes escolhidos para a Copa do Mundo. Porém, quando o nome mais criticado é o suplente não imediato dos zagueiros reservas, percebe-se que a tempestade pode estar acontecendo em um copo d’água. Dante é a primeira escolha na necessidade de se substituir Thiago Silva ou David Luiz. Miranda seria uma escolha mais viável para o lugar de Henrique, sem dúvidas, uma vez que o ex-beque do São Paulo é virtual campeão espanhol com o Atlético de Madrid, clube finalista da atual edição da Champions League. Mas, potenciais injustiças a parte, Henrique não comprometerá.


De resto, a lista dos vinte e três nomes está na boca do povo de maneira tal que me abstenho de aqui citá-la em sua totalidade. Os que lá estão garantiram sua vaga de alguma maneira durante a segunda passagem de Felipão na equipe brasileira. Terão a chance de provar, na Copa do Mundo, o motivo não só de tal confiança, mas também o de terem conseguido um lugar no mundial. A força desta equipe, porém, terá de vir de fora. Não só das arquibancadas, mas das ruas, do clima que terá de envolver o país durante o evento. Longe do discurso ufanista da ‘‘Copa das Copas’’, a equipe de futebol nacional precisa disso. No caso da improvável ausência da energia petiscada na Copa das Confederações, outra nação pode ser a dona da festa no Maracanã, no dia 13 de julho. O grande favorito, porém, acima de Espanha, Argentina e Alemanha, não poderia ser diferente: É o Brasil, representado pelos pés dos escolhidos a dedo por Felipão.
Read More