Estaca zero
Dunga fez sua primeira convocação em sua segunda passagem como técnico do Brasil. Embora as listas de selecionados nunca agradarão a todos, o certo é que Dunga não era o nome para conduzir a reforma necessária na Seleção Brasileira. A equipe nacional não precisa de um xerifão, e sim de alguém que projete um trabalho voltado a devolver o futebol bem jogado, competitivo e moderno à camisa que diversas vezes encantou o mundo com a bola nos pés. Porém, como José Maria Marin e Marco Polo Del Nero não são os caras a comandar uma reformulação no futebol brasileiro, reestruturando-o de forma completa, fazendo da seleção a consequência da somatória de inúmeros pontos, o capitão do tetra ganhou, novamente, a chance de ocupar o cargo de treinador.
Seu objetivo é claro: vencer a Copa do Mundo de 2018, ainda que o necessário seja implantar uma filosofia e modo de trabalhar e jogar que renda frutos para a seleção a médio e longo prazo, alcançando sucessivos mundiais da FIFA. A visão curta e estreita de quem o incumbiu de tal missão faz reiniciar o ciclo da seleção brasileira: esperança e promessa de mudança ao anúncio do novo treinador, boas partidas e eventuais títulos e expectativa para a Copa, seguida de fracasso, que resulta na saída do técnico como vilão, ou em conquista, a qual o tornaria herói. Para os dirigentes, a conquista da Copa de 2018 resumiria a contratação de Dunga como sucesso. Para o futebol brasileiro, o título seria mais um buraco tapado - prática tão comum na CBF quanto nos clubes - que, na superfície, aparenta melhoras substanciais, mas esconde, submerso, todas as necessidades de mudança que o futebol brasileiro clama, atualmente.
Em meio a opiniões similares e diferentes, Dunga convocou sua primeira lista, marcando o suposto início de novo ciclo. Dos 22 nomes, dez estavam no grupo que disputou a última Copa, o que indica certa renovação, embora não exista caça às bruxas. Destes, apenas Maicon e Hulk deveriam ter ficado de fora para dar lugar aos mais jovens Rafael, do Machester United, e Lucas Moura, do PSG. Das novidades, o olhar atento ao futebol nacional levou os destaques do Cruzeiro Everton Ribeiro e Ricardo Goulart à seleção, assim como Diego Tardelli, do Atlético-MG e Gil e Elias, do Corinthians. "Da Europa", Philliphe Coutinho, camisa 10 e destaque do Liverpool, Miranda, Filipe Luis e os campeões da Libertadores com o Santos em 2011 Danilo e Alex Sandro, hoje no Porto, além de Marquinhos, promissor zagueiro do PSG, foram chamados.
Com a convocação, o clima de "nova era" toma novamente a Seleção Brasileira, mostrando o quão circular é o caminho da equipe nacional, que inicia tudo do zero após o fracasso do mundial de 2014. Que analisemos os anos, partidas e convocações de Dunga como treinador do Brasil sem perder de vista as necessidades tão expostas e discutidas após a vexatória eliminação para a Alemanha. Do contrário, após a próxima Copa, o que deve mudar no futebol brasileiro voltará a ser discutido apenas até que o novo técnico anuncie sua primeira convocação, e o erro se repetirá mais uma vez.