Santos de casa



         Quando a mais recente joia criada na Vila Belmiro acertou sua transferência para a Europa, para jogar no poderoso Barcelona, muito se falava sobre a decadência que a equipe santista iria sofrer. Era inegável que a perda de Neymar significaria muito para o Santos, e alguns até alertavam para a possibilidade de rebaixamento, fato inédito na história do clube. Porém, após a demissão do ex-treinador Muricy Ramalho, muita coisa mudou no alvinegro praiano, não só eliminando o pessimismo de alguns torcedores, mas dando-lhes uma nova esperança para a continuidade da temporada.
         Um pedido comumente feito por torcedores, ao ver o seu time apresentar um futebol abaixo da média, é que sua equipe ''jogue simples''. Essa dica foi aplicada não no time, mas na diretoria do Santos que, após não conseguir acertar com os internacionais Marcelo Bielsa e Gerardo Martino, agora técnico do atual clube de Neymar, resolveu tocar a bola de lado e manter os negócios em família quando promoveu Claudinei Oliveira, ex-treinador da base, para o time principal. Além de diminuir e muito os gastos anteriormente exorbitantes com a comissão técnica, os resultados apareceram dentro de campo: foram quatro vitórias, três empates e apenas uma derrota nos primeiros nove jogos sob a tutela do novo comandante.
     Nessa caminhada surpreendente, uma nova geração de meninos da Vila vem tendo papel fundamental. Os jovens jogadores passaram a ter chances na equipe titular, e pouco a pouco foram sendo relacionados e aproveitados em confrontos do Campeonato Brasileiro e da Copa do Brasil. Leandrinho, Neilton e Giva, os mais utilizados, se juntam a Gabriel (Ex-Gabigol), Léo Cittadini, Alan Santos e Victor Andrade nos nomes que podem agregar qualidade e opções ao bom elenco santista. Se do meio pra frente, um time só de ''gente grande'' contaria com Renê Júnior, Arouca, Cícero, Montillo, Thiago Ribeiro e Willian José, que formam uma equipe no mínimo competitiva, cabe a Claudinei a tarefa de mesclar as gerações, criando um time forte e equilibrado, e guiar seus comandados a uma classificação final respeitável na liga nacional.
         Fonte aparentemente inesgotável de novos talentos, a Vila Belmiro parece ter recebido uma nova leva que pode levar o Santos a grande lucros, seja na sala de troféus ou nas contas bancárias do clube. Dentro de campo, a molecada pode agregar muito à equipe santista, colocando o time novamente na lista de melhores do Brasil, além de continuar invalidando ditos populares quando o assunto é o Santos. Lá, um raio cai mais de uma vez em um mesmo lugar, e não há milagre mais frequente do que um feito por um santo de casa.
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Eu não acredito!


        O Atlético Mineiro se juntou ao seleto grupo de clubes brasileiros campeões da América ao vencer o Olímpia por 2x0 e ganhar, nos pênaltis, a decisão da Libertadores de 2013. O título representa a maior glória de uma das maiores e mais apaixonadas torcidas nacionais, que agora pode sentir um orgulho diferenciado ao vestir a camisa de seu time. Ainda que o uniforme atleticano sempre foi alegremente estampado no peito de milhões, a sensação de pertencer ao lado alvinegro de Minas Gerais nunca foi tão satisfatória como agora, momento em que o Galo se torna o décimo time brasileiro a possuir o título de campeão continental.
        O título liberta não só o Atlético do rótulo de ''cavalo paraguaio'', adquirido pela falta de grandes e recentes conquistas, mas representa um marco na carreira de seu treinador, Cuca, que mesmo fazendo belos e constantes trabalhos, ouvia constantemente o adjetivo ''azarado''. Ronaldinho Gaúcho, ao faturar a Libertadores, adicionou o troféu a sua vasta lista de conquistas, fazendo com que o majestoso futebol apresentado pelo craque deixe de fugir dos livros de história temporada após temporada e fique marcado como peça fundamental na equipe atleticana que conquistou a América.
        Se a forte e leal marcação do Corinthians campeão do ano passado mostrou que a quantidade de faltas cometidas não é sinônimo de sucesso, e um time moderno e organizado pode erguer o troféu, o Atlético Mineiro de 2013 propôs que a ideia de ter o ataque como prioridade não é tão inviável na Libertadores. Foi dessa forma que o Galo ampliou a sequência de títulos conquistados por clubes brasileiros para a inédita marca de quatro troféus seguidos.
        Acidentado, o percurso do Atlético Mineiro na Libertadores poderia ter terminado no pênalti que Victor defendeu no segundo jogo das quartas-de-finais. Caso convertido, o Galo não iria para as semifinais. Foram nelas que a frase ''Eu acredito'' veio à tona. O placar de 2x0 do jogo de ida foi revertido pelo Atlético no tempo normal do segundo jogo, antes de Victor se agigantar nas cobranças de pênaltis e colocar seu clube na Final, na qual a difícil tarefa de reverter o 2x0 se repetiu, assim como o grito de fé dos torcedores. Grito este que fez o Galo cantar, acordando a torcida atleticana de um sonho, transformando-o em realidade. O título estava conquistado, e o troféu estava lá, para os jogadores erguerem.
        Contudo, acreditar nos placares revertidos pelo Atlético, nas defesas históricas de cobranças de pênaltis que acabaram nas mãos de Victor e na história do título não é tarefa fácil. É algo que, assim como muito do que se passa no futebol, necessita de tempo para ser assimilado. É por isso que, talvez, a frase que melhor descreva a trajetória do Galo na Libertadores de 2013, seja parecida, porém diferente da ecoada pela torcida. É possível que ela seja: ''Eu não acredito''.
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Altos e baixos


  O futebol é feito de altos e baixos para equipes e jogadores. Seria incomodo e desencantador se o destino e o resultado de jogadas, partidas e campeonatos fossem facilmente previstos antes do momento de maior emoção do esporte: o jogo. No onze contra onze, caem os tabus, as estatísticas, as análises e o que ''deve ser''. O placar passa a ser tão imprevisível quanto a vitória é desejada por torcedores e atletas. Talvez seja este um dos fatores que constituem o indescritível momento de estar no topo, podendo gritar ''É campeão''. Para os torcedores do Corinthians, a sensação, que já perdura há algum tempo, continuará após o inédito título da Recopa Sul-Americana.
  O pentacampeonato brasileiro, seguido do título da Libertadores e do Mundial, se juntam ao Paulista e a Recopa de 2013 para representar o ponto mais alto da história do clube alvinegro. Seu adversário na decisão da última glória, o São Paulo, atravessou anos similares de 2005 a 2008, sendo campeão Paulista, da América e do mundo antes de levantar três troféus do campeonato nacional em sequência. Uma seca de títulos acompanhou o clube desde então, até a conquista da Sul-Americana de 2012 credenciar o tricolor para disputar a Recopa. No momento de tal confronto, uma má-fase frequentemente confundida com crise só atrapalhou a equipe, que chegou a demitir o antigo treinador no período entre as duas partidas da final. Porém, não tardará para que o time do Morumbi reencontre seu caminho e saia de baixo, embora o tempo para ascender ao topo possa ser um pouco mais demorado.
  Outro clube que busca uma glória jamais atingida é o Atlético Mineiro, que decide a Libertadores da América de 2013 na próxima quarta, 24. A equipe avançou heroicamente nas duas etapas anteriores, necessitando dos pênaltis para garantir a classificação em ambas oportunidades. Porém, para o título dos mineiros, um milagre maior do que o da semifinal, quando o Galo reverteu a derrota de 2x0 sofrida no jogo de ida, é necessário. O placar do primeiro jogo da final contra o Olímpia foi o mesmo, e ainda que, na final, a ausência de gols fora de casa como critério de desempate ajude o Atlético, dando o mesmo valor para os gols marcados na decisão independente do mandante da partida, um velho observador do esporte diria que final é final, e vice-versa.
  Sabendo disso, o torcedor do Atlético tem consciência de que a missão de sua equipe é a mais difícil a ser enfrentada pelo Galo na Libertadores. Sabe que o duro golpe sofrido no Paraguai pode significar a perda do título, o distanciamento do sonho. Porém, seria incomodo e desencantador se o destino e o resultado de jogadas, partidas e campeonatos fossem facilmente previstos antes do momento de maior emoção do esporte: o jogo. No onze contra onze, caem os tabus, as estatísticas, as análises e o que ''deve ser''. O placar passa a ser tão imprevisível quanto a vitória é desejada por torcedores e atletas. Será sabendo disso que a torcida do Atlético Mineiro encontrará esperanças para, quem sabe, vivenciar um dos fatores que constituem o indescritível momento de estar no topo, e gritar pela primeira vez em sua história na Libertadores: ''É campeão''.
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América para os Brasileiros


            Após obter a melhor campanha na fase de grupos, ganhando cinco de seis partidas, o Atlético-MG continuou a caminhada na Libertadores passando por São Paulo e Tijuana, nas oitavas e quartas-de-final, respectivamente. Com a vantagem de decidir seus jogos em casa, o Galo se tornou, na fase semifinal, o único representante brasileiro na competição. Classificado para a final, é do clube alvinegro a chance de trazer a taça pela quarta vez seguida para o Brasil, fato tão inédito quanto a conquista do torneio por parte da equipe mineira.
            Precisando reverter o placar do jogo de ida, no qual o Newell’s Old Boys venceu por 2x0, na Argentina, o Atlético-MG não poderia esperar por um início melhor. Logo aos 3 minutos, Ronaldinho Gaúcho deu belo passe para Bernard abrir o placar e trazer o sonho da torcida para mais perto da realidade. Porém, a distância foi aumentado conforme a equipe do técnico Cuca criava chances e mais chances, sem convertê-las em gol. O primeiro tempo foi de superioridade de um Galo capaz de colocar em prática o seu futebol, ainda que seu adversário representasse um perigo constante, marcando bem e saindo ao contra ataque em várias oportunidades.
        O cenário não se alterou na segunda etapa, contudo, o tempo ia passando e a apreensão da torcida, crescendo. Esta atingiu o ápice da aflição quando os refletores da Arena Independência pararam de funcionar, há pouco menos de 15 minutos para o final da partida. O treinador usou o tempo para colocar os ânimos em ordem, além de promover, já com o jogo retomado, duas alterações que mudariam o rumo do resultado. Guilherme e Alecsandro entraram no Galo, que já tinha Luan, que foi a campo pouco antes da paralisação, como novidade. Com as luzes ainda apagadas, a torcida gritava ainda acreditar na equipe que, dentro de campo, representava o único meio de realizar o sonho dos milhões de atleticanos que poucas vezes estiveram tão desejosos por um gol em sua história.
           A finalização salvadora veio, após um bate e rebate na área que fez a bola encontrar Guilherme. O atacante, de fora da área, dominou e emendou para o gol de um vencido Guzmán. O sonhado placar não se alterou até o término da partida, levando a decisão para os pênaltis. Quando a série estava empatada em 2x2, um raro desperdício de quatro cobranças em sequência fez a última antes das alternadas ser decisiva. Ronaldinho fez o dele, se curvando para a torcida na comemoração. Victor, herói das quartas-de-finais, defendeu o chute de Maxi Rodrigues e colocou o Atlético Mineiro na primeira final da Libertadores de sua história.
           A equipe brasileira enfrenta na próxima quarta-feira, 17, o uruguaio Olímpia, tricampeão da Libertadores, pelo primeiro jogo da final. O embate entre Corinthians e São Paulo, valendo a Recopa Sul-americana, estranhamente marcado para o mesmo dia, trará outro triunfo continental para o Brasil, que poderá pintar a Libertadores de verde e amarelo por quatro vezes consecutivas pela primeira vez.

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O gigante acordou


        A derrota frente o Uruguai, que calou o Maracanã na decisão da Copa do Mundo de 1950, não é a única memória que ficou da Copa que poderia representar a primeira estrela na camisa do Brasil. A semifinal, jogada três dias antes no mesmo palco da fatídica decisão, credenciou a equipe nacional para a final após aplicar uma goleada de 6x1 na Espanha. Quando a partida estava 4x0, a torcida celebrou cantando a marchinha ''Touradas em Madrid'', em um episódio que ficou na história do futebol brasileiro.
        De lá pra cá, muito mudou no futebol, incluindo cinco Copas conquistadas pelo Brasil, o que transformou o país no mais respeitado quando o assunto é futebol. Gerações encantaram o mundo com equipes marcantes e jogadas que só a seleção canarinho era capaz de fazer. Após o tri da era de ouro do considerado país do futebol, 82 encantou, mas foi 94 que conseguiu o tetra. Oito anos depois, lá estava a seleção no alto, novamente, conquistando seu último título mundial até hoje, o exclusivo pentacampeonato.
        Nos anos mais recentes, contudo, outra seleção vem fazendo aquilo que o Brasil conseguiu por tantas vezes: encantar o mundo e dominar o cenário do futebol mundial. A caminhada da Espanha começou na Eurocopa de 2008, conquistada assim como na edição seguinte, em 2012. No meio das competições a fúria ainda conquistou seu primeiro mundial. O único título que faltava para essa vencedora geração, a Copa das Confederações, poderia ser tentada em 2013, e quis o destino que a decisão fosse justamente contra a única seleção de peso que a fúria ainda não havia enfrentado nesta recente história: o Brasil.
        Não existia palco melhor para a partida, e o mesmo Maracanã - ainda que reformado e parcialmente desfigurado - de 63 anos atrás estava lá para receber o atual bicampeão do torneio e dono da casa contra o ''o Brasil de hoje'', como supôs Fernando Torres, atacante da Espanha na véspera do jogo. A desconfiança da mídia e da torcida era grande, e a vitória estava imensamente longe de ser uma certeza. Mas, como nenhuma certeza entra em campo, o onze contra onze começou, e menos de dois minutos de partida depois, o Brasil já liderava o confronto. O domínio brasileiro permaneceu durante o resto do primeiro tempo, e no final deste o placar se alterava, ampliando a vantagem brasileira. No comecinho da segunda etapa a rede balançava novamente: Brasil 3, Espanha 0, resultado final.
        Acabando com a série de 29 jogos sem perder do adversário, o Brasil engoliu a Espanha por todos os 90 minutos e o 3x0 refletiu o domínio conseguido pela equipe brasileira. De um dia para o outro, a seleção havia recuperado o seu prestígio futebolístico no cenário mundial, fazendo qualquer um que assistiu à partida lembrar o que representa a eterna camisa amarela. A frase que mais ecoava do lado de fora dos estádios, durante manifestações que reivindicavam um país melhor, caiu muito bem para representar o 30 de julho de 2013. Dia em que, diante de uma histórica e vencedora equipe, o gigante acordou.
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