Comumente, as rodadas de final de semana do campeonato
brasileiro têm seus jogos no sábado e no domingo. Porém, essa não era uma
rodada como qualquer outra. Nela, algo especial estava reservado. Devido às
eleições municipais, haveria jogos na quinta-feira, dia 4, e no sábado, dia 6
de outubro de 2012. Dentre os sete jogos deste dia, um dos mais atraentes era,
certamente, Atlético Mineiro e Figueirense, no estádio Independência. Estádio
esse, recém-reformado pelo seu proprietário América Mineiro, porém já agraciado
com belas atuações de um dos maiores gênios do futebol mundial de todos os
tempos, Ronaldinho Gaúcho.
O galo, que passou muitas rodadas na liderança e agora
perseguia o novo líder, Fluminense, tinha como adversário o Figueirense, vice-lanterna
da competição, que perseguia uma remota chance de escapar do rebaixamento.
Parecia ser um jogo fácil para o Atlético, e a vitória era apenas uma das
certezas.
Outra certeza do jogo era uma grande atuação de
Ronaldinho Gaúcho, não fosse o falecimento de seu padrasto, Vanderlei, na
véspera da partida. Ronaldinho pôs fim às dúvidas sobre sua participação decidindo
que iria jogar, o que por si só já valeria uma menção honrosa pelo
profissionalismo demonstrado pelo jogador. Contudo, não haveria como prever se
o melhor do mundo em duas oportunidades conseguiria juntar forças e atuar bem.
Não somente relacionado, mas nos 11 iniciais, o camisa 49
entrava em campo visivelmente abalado. O sorriso de sempre, que lhe acompanhou
durante toda a longa e vitoriosa carreira, não estava presente. Ao contrário.
Os característicos dentes a mostra davam lugar a um olhar triste, deprimido,
que olhava para o estádio como se procurasse um determinado espectador. Porém,
tal torcedor estava acompanhando a partida de outro lugar, assistindo e
vibrando de camarote.
O questionamento sobre a atuação do meia demorou pouco
mais de 10 minutos. Após articular boas jogadas no meio campo, Ronaldinho viu
seu time conseguir um escanteio pela esquerda, e la foi o craque para a
cobrança. Grande oportunidade para se levantar a bola na área? Não
para Ronaldinho. O presente que ele guardava para Vanderlei estava longe de ser
previsível. A cobrança se deu com um toque curto para Bernard, que logo devolveu
a bola aos pés do astro da noite. E que astro.
Ronaldinho, com a bola na entrada da área pelo lado
esquerdo, corta para o meio. Nenhum torcedor presente no estádio seria capaz de
imaginar o que estaria por acontecer. Com toda a classe costumeira, Ronaldo dá um
belo chute de perna direita, fazendo a bola cruzar a área. Os jogadores que
nela estavam não são capazes de fazer nada, senão observar a história sendo
feita. Como se uma mão divina a conduzisse, a bola encontra o destino tantas
vezes dado pelo craque, nos mais belos palcos do futebol mundial. O gol.
Ronaldinho
fez seu brinquedo favorito cruzar a área e aterrissar no ângulo esquerdo do
goleiro, acordando a coruja que la dormia, e fazendo-a alçar voo em direção aos
céus, para contar a Vanderlei a pintura que seu filho de criação acabara de fazer.
Voo desnecessário, afinal Vanderlei havia visto. E se emocionado. Emocionado
por saber que dentre todas as obras de arte compostas por Ronaldinho, esta era
sua.
Mas
Vanderlei não era o único emocionado. Ronaldinho, no gramado, colocava um
joelho no chão, e se apoiava na coxa da outra perna. Desabando em lágrimas. O
gênio que já havia visto tudo no futebol, vestido as camisas de grandes clubes
como Barcelona, Flamengo, Milan, Paris Saint Germain e Grêmio, conquistado a
Copa do Mundo e a Champions League, agora se rendia a mais pura emoção. À
medida que se levantava, evidenciavam-se as lágrimas nos olhos do craque, que
olhava para o céu e apontava.
Na
direção em que o dedo de Ronaldinho apontava, estava Vanderlei, feliz, honrado
e agradecido. Não apenas pelas lágrimas e lamentações, mas por ter recebido um
presente único, especial e maravilhoso, que todo pai se orgulha de receber do
filho. Um golaço de futebol.
P.S:
Ronaldinho Gaucho terminou esse jogou com mais dois belos gols, totalizando três
gols e duas assistências na goleada de 6x0 do Atlético Mineiro perante o
Figueirense.
P.S
2: Ronaldinho nunca terá a chance de ouvir de seu padastro um ‘‘obrigado’’ pelo
gol. Porém, deixo meus agradecimentos em nome dos amantes do mais belo esporte,
por ter nos lembrado do que o futebol realmente é feito.
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Yuri Coghe Carlos Silva