Ditadura no futebol brasileiro: Tem até censura



Em uma ditadura é comum o líder ficar muitos anos no poder, acumulando mandatos. Embora a CBF tenha um novo ‘‘presidente’’, José Maria Marin, seu antecessor permaneceu no cargo durante longos vinte e três anos usando e abusando do poder. Tudo indica que sentiremos os efeitos dessa gestão por vários anos.

Mas a CBF não é a única entidade envolvida com futebol que partilha de alguns princípios totalitaristas. O STJD, órgão que faz julgamentos de casos esportivos, parece usar a censura para punir e se defender.

No confronto entre líder e vice-líder do último domingo, Atlético-MG e Fluminense se enfrentaram em Belo Horizonte. A torcida do galo preparou um protesto contra um possível favorecimento da arbitragem ao clube carioca, que teve suas cores usadas em um mosaico com a sigla CBF. O que aos olhos de alguém sensato é uma atitude aceitável e inofensiva, foi visto como um potencial causador de violência pelo STJD, que julgará e poderá punir o clube mineiro.

Recentemente outro clube também foi julgado pela mesma ‘‘infração’’. Torcedores do Náutico, irritados com alguns erros de arbitragem que prejudicaram seu time, levaram ao estádio uma faixa com os dizeres: ‘‘Não irão nos derrubar no apito’’. O arbitro da partida pediu para que a faixa fosse retirada, e posteriormente o tribunal decidiu não punir o clube.

No primeiro caso, a decisão ainda está por vir, e no segundo, embora sem punição, o recado foi passado. Qualquer tentativa de reivindicar uma maior qualidade na arbitragem brasileira, ou até mesmo critica-la, pode terminar sendo censurada pelo STJD, pelo simples fato de desafiar a autoridade desse órgão máximo. A imprensa ainda não foi afetada, mas impedir torcidas de se manifestar pode ser o primeiro passo para que a censura no futebol brasileiro ajude a tornar não só o STJD, mas também a CBF, em entidades intocáveis.
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Yuri Coghe Carlos Silva
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O mais belo show de Ronaldinho Gaúcho



              Comumente, as rodadas de final de semana do campeonato brasileiro têm seus jogos no sábado e no domingo. Porém, essa não era uma rodada como qualquer outra. Nela, algo especial estava reservado. Devido às eleições municipais, haveria jogos na quinta-feira, dia 4, e no sábado, dia 6 de outubro de 2012. Dentre os sete jogos deste dia, um dos mais atraentes era, certamente, Atlético Mineiro e Figueirense, no estádio Independência. Estádio esse, recém-reformado pelo seu proprietário América Mineiro, porém já agraciado com belas atuações de um dos maiores gênios do futebol mundial de todos os tempos, Ronaldinho Gaúcho.

            O galo, que passou muitas rodadas na liderança e agora perseguia o novo líder, Fluminense, tinha como adversário o Figueirense, vice-lanterna da competição, que perseguia uma remota chance de escapar do rebaixamento. Parecia ser um jogo fácil para o Atlético, e a vitória era apenas uma das certezas.

               Outra certeza do jogo era uma grande atuação de Ronaldinho Gaúcho, não fosse o falecimento de seu padrasto, Vanderlei, na véspera da partida. Ronaldinho pôs fim às dúvidas sobre sua participação decidindo que iria jogar, o que por si só já valeria uma menção honrosa pelo profissionalismo demonstrado pelo jogador. Contudo, não haveria como prever se o melhor do mundo em duas oportunidades conseguiria juntar forças e atuar bem.

            Não somente relacionado, mas nos 11 iniciais, o camisa 49 entrava em campo visivelmente abalado. O sorriso de sempre, que lhe acompanhou durante toda a longa e vitoriosa carreira, não estava presente. Ao contrário. Os característicos dentes a mostra davam lugar a um olhar triste, deprimido, que olhava para o estádio como se procurasse um determinado espectador. Porém, tal torcedor estava acompanhando a partida de outro lugar, assistindo e vibrando de camarote.

             O questionamento sobre a atuação do meia demorou pouco mais de 10 minutos. Após articular boas jogadas no meio campo, Ronaldinho viu seu time conseguir um escanteio pela esquerda, e la foi o craque para a cobrança. Grande oportunidade para se levantar a bola na área? Não para Ronaldinho. O presente que ele guardava para Vanderlei estava longe de ser previsível. A cobrança se deu com um toque curto para Bernard, que logo devolveu a bola aos pés do astro da noite. E que astro.

              Ronaldinho, com a bola na entrada da área pelo lado esquerdo, corta para o meio. Nenhum torcedor presente no estádio seria capaz de imaginar o que estaria por acontecer. Com toda a classe costumeira, Ronaldo dá um belo chute de perna direita, fazendo a bola cruzar a área. Os jogadores que nela estavam não são capazes de fazer nada, senão observar a história sendo feita. Como se uma mão divina a conduzisse, a bola encontra o destino tantas vezes dado pelo craque, nos mais belos palcos do futebol mundial. O gol.

   Ronaldinho fez seu brinquedo favorito cruzar a área e aterrissar no ângulo esquerdo do goleiro, acordando a coruja que la dormia, e fazendo-a alçar voo em direção aos céus, para contar a Vanderlei a pintura que seu filho de criação acabara de fazer. Voo desnecessário, afinal Vanderlei havia visto. E se emocionado. Emocionado por saber que dentre todas as obras de arte compostas por Ronaldinho, esta era sua.

   Mas Vanderlei não era o único emocionado. Ronaldinho, no gramado, colocava um joelho no chão, e se apoiava na coxa da outra perna. Desabando em lágrimas. O gênio que já havia visto tudo no futebol, vestido as camisas de grandes clubes como Barcelona, Flamengo, Milan, Paris Saint Germain e Grêmio, conquistado a Copa do Mundo e a Champions League, agora se rendia a mais pura emoção. À medida que se levantava, evidenciavam-se as lágrimas nos olhos do craque, que olhava para o céu e apontava.

   Na direção em que o dedo de Ronaldinho apontava, estava Vanderlei, feliz, honrado e agradecido. Não apenas pelas lágrimas e lamentações, mas por ter recebido um presente único, especial e maravilhoso, que todo pai se orgulha de receber do filho. Um golaço de futebol.



P.S: Ronaldinho Gaucho terminou esse jogou com mais dois belos gols, totalizando três gols e duas assistências na goleada de 6x0 do Atlético Mineiro perante o Figueirense.

P.S 2: Ronaldinho nunca terá a chance de ouvir de seu padastro um ‘‘obrigado’’ pelo gol. Porém, deixo meus agradecimentos em nome dos amantes do mais belo esporte, por ter nos lembrado do que o futebol realmente é feito.
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Yuri Coghe Carlos Silva
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