De volta ao Brasileirão


  Durante o período de Copa do Mundo, o brasileiro não apenas pode assistir a futebol de alto nível, como o viu de perto, já que o Brasil sediou o mundial da FIFA. Com o fim do torneio, porém, a realidade do futebol brasileiro atual volta a ser exposta. Além do anseio de mudança por parte de muitos, as competições nacionais voltam e trazem consigo a discussão da qualidade da bola jogada no país, que tem sido abaixo da média.

  Claro que há exceções. O Cruzeiro, por exemplo, continua praticando o futebol ofensivo e atrativo que o conferiu o título do ano passado. Por isso, o lado azul de Minas Gerais é franco favorito para comemorar mais uma conquista na liga brasileira no fim do ano. Assombroso para os rivais, o sucesso do Cruzeiro passa pelo recheado elenco, uma vez que o clube não tem poupado fundos para trazer jogadores de boa qualidade e que seriam fundamentais em qualquer equipe do brasileirão, e pelo treinador. Marcelo Oliveira, no cargo desde dezembro de 2012, é o responsável pela movimentação e coesão da equipe. Além da capacidade do técnico, o tempo na função é tão fundamental quanto. Marcelo é quem está a mais tempo no cenário nacional na mesma cadeira de treinador.

  Segundo colocado, o Corinthians tem um elenco de qualidade, bastante elogiado pela mídia. De fato, há grandes jogadores no alvinegro paulista, dando ao treinador Mano Menezes o material humano necessário para grandes conquistas. Contudo, é necessário paciência. Em seu primeiro ano de trabalho na volta ao clube, e com o Cruzeiro como rival, parece não ser dessa vez que Mano comemorará o primeiro título do brasileirão de sua carreira. A Copa do Brasil, porém, é uma boa frente para o clube comemorar não só um título na temporada, mas também a vaga na Libertadores.

  Na briga pelo G4, por hora, Internacional, Santos, Sport e Fluminense se juntam as duas equipes já citadas para batalhar pelo grupo de acesso à Libertadores. De nomes renomados na parte ofensiva, como Kaká, Pato, Alan Kardec, Ganso e Luís Fabiano, o São Paulo deve criar uma equipe para se credenciar a tal disputa. A tarefa não é fácil, e Muricy Ramalho tem um desafio pela frente. Tarefa mais complicada tem Ricardo Gareca, do Palmeiras. O treinador que tem recebido mais atenção da imprensa pelo fato de ser estrangeiro do que pelo cargo que ocupa, não conta com uma equipe qualificada, e passar longe do rebaixamento pode ser considerada uma boa campanha para o alviverde.

         A torcida agradece a volta do futebol nacional, após a parada para a Copa do Mundo. Para quem quer ver um espetáculo de alto nível com as estrelas do futebol mundial jogando o fino da bola em gramados perfeitos e estádios lotados, porém, o futebol europeu retorna em agosto. Campeonatos inglês e alemão, além da Champions League, são boas pedidas.
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Piada de mal gosto


         É uma utopia pensar que, após o vexame encarado pelo Brasil na semifinal da Copa do Mundo, José Maria Marin e Del Nero seriam os caras a comandar uma reformulação no futebol brasileiro. Não serão os ultrapassados líderes da CBF, que alternarão a presidência e a vice do cargo no ano que vem, após eleição estrategicamente antecipada para antes do mundial de 2014, que liderariam a reestruturação e fariam da seleção a consequência da somatória de inúmeros pontos que precisam urgentemente de uma revisão.

      Contudo, a situação ficou ainda pior. Em uma decisão apressada e de visão estreita, Gilmar Rinaldi e Dunga foram anunciados como coordenador de seleções e treinador da seleção principal, respectivamente, quando Leonardo e Tite pediam passagem para tais funções. Tetracampeão mundial em 1994, assim como Dunga, Rinaldi foi empresário de jogadores por 14 anos, função que exerceu até um dia antes de ser anunciado como o novo coordenador de seleções. A incongruência dos dois ofícios foi tema de uma carta aberta do deputado Romário, que criticou ferrenhamente a contratação de Gilmar, a quem classificou de incompetente e sem personalidade, além de expressar o desprazer de terem sido companheiros de trabalhado no Flamengo, em 1999. Já Dunga representa um passo atrás. O treinador, que comandou a seleção brasileira de 2006 à 2010, não era o nome para conduzir a reforma necessária na equipe nacional, que, no momento, não precisa de um xerifão.

          Após o trauma das negativas de José Mourinho, do Chelsea, e Manuel Pellegrini, do Manchester City, Del Nero limitou a procura da CBF para técnicos brasileiros. Nesse ponto, Tite era o mais preparado. Após ser campeão brasileiro, sul-americano e mundial com o Corinthians, passou o ano de 2014 inteiro apenas estudando futebol, comparecendo a partidas na Europa e adquirindo mais conhecimento para sua certa contratação pós-copa por parte da seleção brasileira - o que não ocorreu. Ninguém estava mais preparado que o treinador, que é um dos poucos do panorama nacional que demonstra o interesse em evoluir e estudar, grupo do qual Dunga não faz parte. Já Leonardo vive o futebol europeu como dirigente desde 2002, e conhece o modelo que tem de ser humildemente seguido pelo Brasil como poucos. Depois de trabalhar no Milan por 7 anos e ter uma passagem pela rival Inter de Milão, ajudou o rico Paris-Saint-Germain a compor o bom elenco que hoje possui.

          A contratação de Leonardo para a função de coordenador de seleções dependia de uma conversa com Marin e da definição dos últimos detalhes, segundo jornais. Tais detalhes nunca foram acertados. Gilmar Rinaldi e o treinador Dunga não convencem a ninguém. É mais do mesmo para a seleção, que clamava por uma reestruturação do futebol brasileiro para este voltar a ser a melhor do mundo. Se isso não vem pelas mãos dos atuais comandantes, pensava-se que estes ao menos seriam capazes de colocar funcionários capacitados para as duas funções mais importantes da seleção. Tite e Leonardo serem preteridos por Gilmar Rinaldi e Dunga parece uma piada de mal gosto.
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Deu Alemanha


         A Copa no Brasil já é passado. A frase causa um sentimento de tristeza em quem a escuta, tamanha a adesão da população ao mundial. Dentro de campo, o futebol de alto nível apresentado, aliado a paixão do brasileiro pelo esporte e as surpresas e histórias inesquecíveis que a Copa trouxe, explica tal sentimento. Contudo, fora das quatro linhas, os problemas amplamente discutidos antes do torneio não deixaram de existir. O preço superfaturado dos estádios não diminuiu durante o campeonato, e não surgiu público que justifique as arenas construídas em Manaus, Natal e Cuiabá, além da reforma do Mané Garrincha, em Brasília. No âmbito da infraestrutura, fez-se menos e gastou-se mais do que o previsto na Matriz de Responsabilidade da Copa, anunciada em 2010. Agora que já não estão aqui os estrangeiros, felizes, e a FIFA, com um lucro bilionário - que antes do torneio girava em torno de 6,3 bilhões de reais -, a realidade do país e do futebol nacional começam, lentamente, a ser perceptíveis novamente.

          Na organização e na imagem que ficou, deu Brasil, até que se olhe mais profundamente. No futebol, Deu Alemanha, e a conquista é incontestável. Em todas as quatro copas do mundo deste milênio, os germânicos fizeram os sete jogos, caindo na semifinal duas vezes - alcançando o terceiro lugar em ambas as oportunidades -, e nas outras duas avançando para a final. A perda do título para o Brasil, em 2002, fez os alemães repensarem o seu futebol, caçando os dirigentes corruptos e dando atenção para as categorias de base e a pratica do ofensivo e atrativo esporte. Gerações após gerações de craques nascem no país, que conseguiu, em seu tetra campeonato, o seu primeiro título como nação unificada. Nesse ponto, a glória teve ainda mais significado. Os donos da assistência e da finalização do gol do título foram os primeiros jogadores a vestirem a camisa da equipe nacional alemã tendo nascido no país pós queda do muro de Berlim.

          De brinde, a Alemanha ganhou o maior artilheiro das copas. Miroslav Klose, de 36 anos e quatro mundiais disputados, passou Ronaldo, de 15 gols, e marcou dois no Brasil para chegar as 16 bolas na rede em copas do mundo. Outro recorde em termos de gols foi atingido por James Rodrigues. O jovem colombiano encheu os olhos de quem o viu jogar, marcando seis gols no mundial, não passando em branco em nenhum dos cinco jogos que disputou, fato inédito na história das copas. A surpresa ficou com a Costa Rica, que após ser a primeira colocada no grupo da morte, que contava com três campeãs mundiais, só parou nas quartas, e nos pênaltis. Já o Brasil dividiu com a Espanha o posto de decepção da Copa. Após tomar dez gols nos últimos dois jogos, que a humilhação sirva de lição para o país tomar a Alemanha como exemplo e reestruturar seu futebol. Que esse seja o legado da Copa, além das memórias das Costas Ricas, das mordidas de Luis Suares e das farras alemãs na Bahia, entre outro momentos memoráveis, além da atmosfera que tomou o país durante o mês de disputa do torneio.
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Humildade



        Não fiquei irritado com a goleada alemã em cima do Brasil. Me senti, na verdade, anestesiado. O apagão que tomou conta da seleção brasileira após o primeiro gol da Alemanha fez com que, aos 29 minutos, o 5 a zero estampasse o placar do Mineirão. O sonho do hexacampeonato em casa acabou rápido e de maneira irreversível, ainda que 60 minutos de bola rolando ainda estavam por vir. Perder nos pênaltis, por exemplo, seria mais doloroso, pela proximidade da vaga para a final que tais circunstâncias trariam. O elástico 7 a 1, porém, fez com que a mais famosa e vencedora camisa do futebol mundial fosse reduzida a nada. O resultado traz consequências e escancara necessidades do futebol brasileiro.
           
         O momento não é de caça às bruxas ou de argumentos que aparecem em todo fracasso brasileiro em Copa do Mundo, como a exigência de que os jogadores selecionados atuem no país ou a ausência de um ou dois nomes, preteridos pelo treinador em sua derradeira lista de convocados. A palavra da vez é revolução. Há tempos, o futebol brasileiro é comandado por pessoas que, antes de escolher o sucessor a dedo, com a certeza de que este será reeleito através de um sistema completamente falho no qual a federação estadual ou o clube que for contra aquele candidato não terá vida fácil no futuro, enriquecem até não poder mais e pouco fazem pela estrutura do esporte no Brasil. São infinitas as ótimas consequências que pessoas voltadas ao melhoramento, o qual hoje não é prioridade, do futebol nacional, trariam.

Mais catastrófico que 1950, o ''Minerazzo'' acabou com a atmosfera que se criou acerca da camisa amarela durante décadas, após brilhantes conquistas e bom futebol. Até antes do jogo, quem encarasse o Brasil, o via de uma maneira. Após a maior derrota da seleção brasileira em sua história, teremos de nos acostumar com a ideia de que nossos rivais não temerão jogar contra nós tanto como antes. Se o 7 a 0 no agregado de Barcelona e Bayern pela semifinal da Champions League de 2012-2013 decretou o fim do domínio do clube espanhol e colocou em xeque o seu estilo de jogo, a moral da seleção brasileira terá de ser inteiramente reconstruída após o vexame. Não se perde uma semifinal de copa do mundo por tal placar e continua-se no maior patamar do futebol mundial.


Quem tentar negar tal fato deve repensar seus conceitos. Para nos reerguermos - o que significa voltar a ser exemplo e referência de formação de jogadores e de prática do futebol arte, ou ao menos moderno -, é necessário humildade. Citar o histórico vencedor da seleção brasileira não é mais suficiente. Que o desastre sirva para colocar abaixo toda a prepotência de sermos o país do futebol, o qual pode amontoar 23 atletas de quatro em quatro anos e ser favorito a conquistar o mundial. Além de uma total reformulação no futebol brasileiro, passando por pontos como estádios, público, arbitragem, violência entre torcidas, e a qualidade do futebol praticado, que as categorias de base ensinem a jogar bola a quem tem talento, e não a ser pragmático para vencer por 1 a 0 dando prioridade à destruição de jogadas e a bolas aéreas para jovens empresariados. Que a humildade para reconhecer que há muita coisa errada em nosso futebol seja o tão falado legado da Copa.
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Para quem sabe sintonizar


           A Copa do Mundo não nos brinda apenas com emocionantes jogos de alta qualidade e, no caso de sediar o mundial, com a inflamada e agradável presença de turistas oriundos de outras nações em terras nacionais. Há também como se deliciar com o material produzido pela imprensa no período do torneio. Além das inesgotáveis pautas que focam curiosos personagens, animados fãs de futebol de todo o mundo e outros aspectos que fogem das quatro linhas, é possível assistir à análises futebolísticas e do jornalismo em si, como ocorreu no programa Linha de Passe na Copa, da ESPN Brasil, de segunda-feira (30).

           Logo ao início do programa, a presença de Juca Kfouri e Paulo Vinícius Coelho foi anunciada com uma informação que fez a introdução dos comentaristas, ao vivo da Granja Comary, ser diferente das outras edições da atração. Os jornalistas haviam participado, ainda naquele dia, de uma seleta reunião com a comissão técnica da seleção brasileira. A primeira pergunta que lhes foi feita, logo de cara, pelo mediador Paulo Andrade, questionava como foi a reunião e para que esta serviu. Pedir para que a imprensa brasileira fosse mais solidária com a seleção. Assim respondeu Kfouri, definindo o principal propósito do encontro.

        PVC, tratando neste momento de futebol, disse estar satisfeito por entender que a comissão técnica do Brasil sabe que uma melhora é necessária. O assunto logo voltou para o pedido de parceria entre imprensa e equipe nacional, como classificou Arnaldo Ribeiro. De acordo com o jornalista, o desejo expresso no encontro não é papel dos profissionais da área. A opinião foi partilhada por Kfouri, que fez a ressalva de classificar como absolutamente legítimo que Felipão queira contar com um papel solidário da imprensa. Cabe ao jornalista não faze-lo, por saber do ideal da profissão.

          A informação dada com isenção é precisa, e tem que ser para os dois lados. A seleção brasileira não tem de ser tratada na Copa do Mundo de maneira melhor ou pior do que as outras, ela tem que ser analisada por todo o contexto, elucidou PVC. O próximo a entrar no debate foi Mauro Cezar Pereira, tecendo, com exemplar didática, os motivo de certas pautas serem mais relevantes do que outras para o público brasileiro. José Trajano, então, questionou o fato de não haver jornalistas da TV Globo no encontro. A ausência causou espanto no jornalista, que indagou se a emissora pertence a outro grupo, do qual não é necessário pedir. A reunião, com eles, seria outra.

          Kfouri encerra o que trago neste artigo sobre a agradabilíssima conversa veiculada no programa, do qual só lamento a ausência de Paulo Calçade e Antero Greco, ao deixar a seguinte questão para o telespectador. Em nome de aparentar uma isenção absoluta, deveriam ele e PVC terem recusado o convite? Ele pergunta se esta seria uma atitude jornalista, completando depois que, para ele, assim não lhe parece, explicando que, no final das contas, o técnico da seleção brasileira convidou alguns jornalistas para ter uma conversa sobre um time de futebol, apenas. Já o programa foi uma aula de jornalismo.
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