Bom senso


         Parece lógico que a entidade responsável por um tesouro nacional cuide de seu produto, conhecido mundialmente como uma das marcas do país, mantendo-o, assim, como sinônimo não só do Brasil, mas também de excelência, além de lucrar com as ações implementadas visando a melhoria de tal relíquia. Contudo, a falta de planejamento e profissionalismo do futebol brasileiro obrigaram mais de 70 jogadores a reunirem um grupo que cobra nada mais do que o nome de tal organização: bom senso.
        Anunciado pela Confederação Brasileira de Futebol, CBF, na última sexta-feira (20), o calendário proposto para a próxima temporada não satisfez atletas da série A e B do campeonato brasileiro, o que serviu como estopim de um movimento que possui total potencial de representar um marco no desenvolvimento de nosso futebol, iniciando uma série de reformas necessárias, como a profissionalização dos árbitros e monitoramento eficiente nos estádios, além de poder ser o responsável pela reformulação da atual estrutura de marcação de jogos e campeonatos.
             Dentre os pontos citados pelo grupo, que já possui logotipo, página no facebook e no twitter, um planejamento especial para o pagamento dos salários dos atletas é um dos principais, além da instituição do limite de sete jogos por clube para cada trinta dias e de uma eventual adequação ao modelo europeu, no qual a temporada tem início no meio do ano. O pouco tempo de pré-temporada, período de preparação entre as férias e o início dos estaduais, também está na pauta. Neste ano, o Atlético Paranaense abdicou de jogar o estadual com o time principal, delegando a equipe sub-20 para a tarefa. O maior tempo e a preparação adequada parecem ter surtido efeito, visto a grande campanha da equipe no brasileirão.
          Alex, do Coritiba, é um dos membros do grupo, assim como seu xará do Internacional, os tricolores Rogério Ceni e Luís Fabiano, o zagueiro Edu Dracena e o atacante Alexandre Pato. Os experientes Zé Roberto, Júlio Baptista, Dida, Alessandro e Léo Moura também contribuem para o movimento, que ainda conta com pouco mais de 60 nomes. A CBF já avisou que aceita discutir tais questões com o grupo, mas nega qualquer mudança para o ano que vem, pois as datas serão limitadas devido a interrupção para a Copa do Mundo.
         As legítimas reivindicações do Bom Senso F.C. mostram que a CBF não reina o futebol brasileiro sem a fiscalização atenta de outros olhos esportivos mesmo após a implosão do grupo dos treze. Ações devem ser tomadas pela entidade caso esta queira ter jogadores entrando em campo em partidas de seus campeonatos. É evidente que uma greve ainda nem entra em cogitação, mas para que continue assim, é preciso reaver um princípio que muitas vezes parece estar em falta na mesa de comando do futebol brasileiro: o bom e agora renovado bom senso.
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Entressafra


         O Cruzeiro não serve para comparação. A fenomenal campanha da equipe mineira não funciona como base para avaliar o aproveitamento de outro time deste campeonato brasileiro. Por este motivo, não era desesperador o fato de o Corinthians ter virado o turno dez pontos atrás do líder da liga nacional. Contudo, com apenas três rodadas disputadas no returno, a distância entre os clubes aumentou para 19 pontos, e embora as três vitórias anotadas pela raposa não surpreendam, a ausência de pontos conquistados ligaram o sinal de alerta do atual campeão mundial.
       Antes da atual ''crise'' começar, o Corinthians emendou uma série de onze jogos sem perder no brasileirão. Ainda que cinco destes foram empates, os quais abusavam da paciência dos torcedores, os resultados eram inegáveis. Apenas três gols foram tomados em tais partidas, e a defesa, que não era vazada mais de duas vezes em um mesmo jogo desde o campeonato paulista, era um dos pontos fortes da equipe. Os números, porém, enganavam. Quem assistia a equipe atuar percebia a notável falta de criatividade que tomava o meio-campo e deixada os atacantes - que também tem sua parcela de culpa - pouco munidos.
      Os mesmos números que antes mascaravam um time apático agora traem o clube. A seca de vitórias, iniciada após a ilusória goleada sobre o Flamengo, já dura cinco jogos. Os numerais são ainda mais cruéis. Cinco gols foram tomados nas últimas três partidas e apenas três pontos separam o São Paulo, que virou o turno na zona de rebaixamento, do rival que ainda sonha com uma vaga para a Libertadores. A torcida, impaciente, clama por mais vontade dos atletas. A imprensa, por sua vez, cobra inovação do treinador, que já alertou para o elenco fragilizado com o qual trabalha, se comparado com o passado recente do clube. Já os jogadores falam em levantar a cabeça e trabalhar forte para recuperar o caminho das vitórias. Nesta ordem.
          Demitir Tite não é a solução. Se Muricy fez renascer o São Paulo com a sua contratação, o efeito no Corinthians seria o contrário. Não há ninguém no mercado com tamanho conhecimento do elenco e do clube como o que ocupa o cargo atualmente, enquanto a capacidade do treinador não precisa ser comentada. Trocar o semeador da plantação faria a lavoura ter de se acostumar com novos métodos e técnicas, alterando a próxima safra, que muito possivelmente não tardará, além de ser frutífera. Não há dúvidas de que o alvinegro achará o caminho do sucesso novamente, deixando a atual entressafra para trás. Em um campeonato com o meio de tabela tão equilibrado, uma vitória contra o líder Cruzeiro, no domingo (22), pode significar a retomada do timão no ano, ainda que o mais provável seja uma derrota. Neste caso, há quem diga que o Cruzeiro não sirva para comparação.
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Vermelho cor de gelo


         Felipe Massa não resistiu a mais um ano de desempenho abaixo do esperado na Ferrari. Após oito temporadas na Fórmula 1 pela equipe, Kimi Räikkönen substituirá o brasileiro após assinar por dois anos com a escuderia pela qual foi campeão mundial em 2007. Massa passa agora a procurar por uma vaga no grid, para garantir que a bandeira brasileira não fique sem representantes no início de uma temporada da categoria máxima do automobilismo pela primeira vez desde 1970.
           No entanto, a situação não é desesperadora. O assento vago deixado por Räikkönen, na Lotus, é a melhor opção para Massa, e os dirigentes da equipe já disseram que o vice-campeão de 2008 está na lista de prováveis contratados. O alemão Nico Hulkenberg é o maior concorrente pelo carro. Ainda entre as equipes do ''primeiro escalão'', a McLaren pode pintar como surpresa. A inconstante temporada do mexicano Sergio Pérez com os ingleses pode contar a favor do brasileiro. Com Mercedes e Red Bull sem vagas disponíveis, qualquer outro contrato assinado por Massa implicaria em um carro teoricamente não competitivo.
         Já a Ferrari sai da zona de conforto estabelecida pela própria equipe em 2010, ano em que a escuderia antecipou a engatilhada contratação de Fernando Alonso devido à incerteza do retorno de Felipe após o grave acidente da temporada anterior. Com Massa recuperado, Räikkönen perdeu a vaga para o espanhol, deixando claro a opção dos italianos por não ter dois ''primeiros'' pilotos em seus carros, diretriz que imperou na equipe durante todo este milênio. Ainda sob contrato, o que impossibilitou o acerto imediato com outra equipe do grid, Kimi continuou recebendo salário da Ferrari durante o primeiro dos dois anos em que permaneceu fora da F1.
         Retornando à escuderia em que se sagrou campeão após dois anos de pilotagem soberba pela Lotus, Räikkönen deixa Alonso sozinho no que diz respeito a seus resultados. Enquanto a função de Massa na equipe era privilegia-lo, chegando a lamentável função de servir de escolta nas seções de classificação, fornecendo o vácuo e fazendo Alonso andar mais rápido, Kimi chega para tentar repetir o feito conseguido em sua primeira passagem pela equipe vermelha: ser campeão. Agora o espanhol não contará com as ultrapassagens ordenadas pelo rádio em cima do companheiro de equipe, por exemplo.
         Alonso terá de ser o homem que não foi em 2007, quando saiu de sua casa, a Renault, para se unir a McLaren. Lá, Lewis Hamilton, em seu primeiro ano de F1, não permitiu ser tratado como segundo piloto. No ano seguinte, Hamilton se tornava campeão mundial enquanto Alonso estava de volta à Renault. Não é à toa que muitos o chamem de mimado.
         Alonso deveria aprender com Vettel, seu carrasco dos anos de Ferrari. O fenomenal alemão - que não conta com a ajuda descarada de seu companheiro - prefere pilotar ao invés de apelar para polêmicos jogos psicológicos via imprensa. Esse é o caminho para Alonso finalmente ser campeão com o carro vermelho. Ironicamente, tais características se encaixam mais em Räikkönen. Não é à toa que muitos o chamem de ''homem de gelo''.
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