quinta-feira, 14 de novembro de 2013

Resta saber


      Alexandre se destacou cedo em sua profissão. Logo em seu primeiro ano como contratado profissional, seu potencial foi notado pelo grande mercado do seu campo de atividade, onde começara a atuar na metade do ano seguinte, levando o talentoso jovem para fora do seu país de origem. Lá, esperava-se que o prodígio atingisse o ápice, se tornando um dos maiores especialistas do mundo em sua área, além de encantar milhões com seu dom natural.
         Se o começo saiu como planejado, e o desenvolvimento gradual estava dentro dos parâmetros aguardados, o resto da trajetória de Alexandre no exterior foi desapontante. Impedido frequentemente de trabalhar devido à suas condições físicas, o brasileiro parecia sucumbir perante as altas exigências que seu trabalho demandava de seu corpo. A solução? Retornar para casa e voltar a trabalhar no Brasil, ainda que em outra empresa, e não aquela que inicialmente o revelou como um engenhoso funcionário.
          O novo contratante, no auge de sua história centenária, pagou rios de dinheiro para contar com os serviços do novo empregado, preparando-lhe um planejamento que visava restabelecer seu vigor físico, possibilitando mais dias de trabalho do que vinha sendo comum no exterior. O início, novamente, foi um sucesso. A adaptação foi rápida e cada vez mais Alexandre voltava a plenitude de sua forma. Seu bom desempenho ajudou seu grupo de trabalho em duas conquistas, uma delas internacional. Ainda assim, o funcionário não figurava na lista de empregados que iniciava a jornada de trabalho, pois o gerente relutava em recruta-lo para tal. Alexandre funcionava como uma peça de reposição de luxo, ainda que sua presença fosse pedida por grande parte dos clientes da empresa, a qual, até então, era líder de mercado.
          Quando o bom operário se tornou presença constante em tal lista, porém, a engrenagem entre os contratados já não funcionava como antes. Atingir o objetivo se tornou difícil, e dias e mais dias de labuta foram concluídos sem os resultados de outrora. A culpa estava longe de ser exclusiva dele, no entanto, o nome forte do empregado parecia atrai-la. Já longe de ser unanimidade, o peso caiu em suas costas quando, em uma reunião de cinco funcionários, Alexandre foi o último de três que falharam em sua função, fazendo sua empresa perder a vaga em um processo de licitação para um concorrente gaúcho.
           O insucesso foi o suficiente para irritar clientes e tira-lo da lista dos que iniciavam a jornada de trabalho. Desprestigiado, chegou a ter a sua demissão cobrada por alguns. Pouco mais de 15 dias dali, contudo, a situação mudou. A mesma tarefa em que falhou, naquela fatídica reunião, estava disponível. Alexandre pediu a caneta e, dessa vez, assinou o êxito como ninguém. Ao fim do expediente, disse para quem quisesse ouvir: Podem comparar os resultados: quando eu trabalho, eles são melhores.
       Resta saber se Tite e a diretoria corintiana vão entender o recado de Pato e permitir que Alexandre faça aquilo para que foi contratado: jogar futebol. Isso ele sabe de sobra para ficar sentado no banco até os 17 minutos do segundo tempo de um empate sem gols, vendo um jogador de meio-campo atuar na sua função de centroavante, ou ser queimado por um penal desperdiçado após inúmeros jogos de pífio futebol apresentado pela equipe.

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