quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

O presente





      Todo pai passa algo a seu filho. Tenho a sorte de conviver com um que me transmite inúmeras coisas positivas. No campo do esporte, embora nossos times de coração sejam diferentes, o gosto pela Fórmula 1 certamente foi compartilhado. Tal interesse se perpetuou não apenas por dividir os domingos de manhã assistindo corridas, mas também pelas histórias que ouço ele contar.

            Quando o assunto é F1, o sujeito é privilegiado. Acompanhou os anos áureos do esporte. Viu correr pilotos como Emerson Fittipaldi, Jack Ickx, Jackie Stewart, Niki Lauda, Nelson Piquet, Alain Prost, Damon Hill, Nigel Mansell e o maior de todos, Ayrton Senna. Este sim, faz escorrer lagrimas dos olhos de meu pai, que faz questão de citar vários capítulos da história do tricampeão. Como seu primeiro podium, conseguido a bordo de uma Toleman, debaixo da chuva de Mônaco. Ou a vez em que guiou sua McLaren com apenas duas marchas à vitória em Interlagos. Lembranças de Senna não faltam, e eu, mesmo sem ter acompanhado tais momentos, visualizo-os mediante os depoimentos que ouço.

            Hoje, ainda que com toda essa ‘‘parafernália tecnológica’’, expressão que meu pai insiste em usar, sou capaz de assistir a muitas corridas de alto nível, como a última, o grande prêmio de Interlagos de 2012. Vettel, que chegava à corrida como atual bicampeão, precisava de um quarto lugar, no mínimo, para garantir mais um título. O único que poderia tirar tal feito dele seria Fernando Alonso, caso este conseguisse uma combinação de resultados. Logo na largada, Alonso pula para quarto lugar, e na terceira curva, Vettel é tocado. Na contra mão, o alemão vê o restante dos carros do grid passar por ele. Aquela imagem do carro da Red Bull virado no sentido contrário, sendo ultrapassado por todos, certamente fez até o mais entusiasta torcedor pensar que o título não fosse mais possível. Principalmente depois de, uma volta mais tarde, a equipe anunciar à Vettel que as avarias no carro eram sérias e não poderiam ser consertadas.

            Bobagem. Para um piloto do calibre de Vettel, nada é impossível. Já na terceira volta, o piloto alemão era o mais rápido da pista, e na nona volta, estava em sexto, o que naquele momento era o suficiente para ser campeão. Mesmo assim nada estava fácil. A situação da pista era confusa e a previsão do tempo, incerta. Na volta 53, Vettel entra nos boxes para colocar pneu para pista seca. Começava a chover, e depois de duas voltas, seu carro voltava aos boxes para colocar pneu intermediário. Seu comunicador não estava funcionando, e sem poder avisar à equipe, esta demora para trocar os pneus. Esta cena dos mecânicos da equipe indo buscar o novo jogo de pneus, deixando Vettel esperando por preciosos segundos, fez aquele mesmo entusiasta torcedor desistir novamente.

La na frente, após um toque entre líderes e um jogo de equipe, Alonso pulava para segundo. Vettel saia dos boxes em décimo terceiro. Com Alonso marcando 18 pontos, o alemão precisava ser sétimo. Estava seis posições acima disso. Pela segunda vez na corrida, o título já não era seu. Foi neste momento que a pista de Interlagos, que já presenciou tantos shows por parte de Ayrton Senna, viu mais um, desta vez do novo tricampeão do mundo de Fórmula 1, Sebastian Vettel. Com a pista molhada pela chuva, o alemão segurava o carro, avariado desde a primeira volta, à medida que precisava de ultrapassagens. Raikkonen, Kobayashi, Vergne, Schumacher, todos viram passar a Red Bull de número 1, que no ano que vem continuará com esse número. Vettel terminou em sexto, e se consagrou o mais jovem tricampeão de Fórmula 1, naquele que foi descrita por meu pai, como uma das melhores corridas de todos os tempos. Um dia, caso a paixão pela Fórmula 1 se perpetue por mais uma geração em minha família, já tenho história para contar. Se meu pai enche os olhos de lagrimas e diz que viu Ayrton Senna, eu já posso encher o peito e dizer: Eu vi Sebastian Vettel.
--

Yuri Coghe Carlos Silva

0 comentários:

Postar um comentário