O presente
Todo pai passa algo a seu filho. Tenho a
sorte de conviver com um que me transmite inúmeras coisas positivas. No campo
do esporte, embora nossos times de coração sejam diferentes, o gosto pela
Fórmula 1 certamente foi compartilhado. Tal interesse se perpetuou não apenas
por dividir os domingos de manhã assistindo corridas, mas também pelas
histórias que ouço ele contar.
Quando o assunto é F1, o sujeito é privilegiado.
Acompanhou os anos áureos do esporte. Viu correr pilotos como Emerson Fittipaldi, Jack Ickx, Jackie Stewart,
Niki Lauda, Nelson Piquet, Alain Prost, Damon Hill, Nigel Mansell e o maior de
todos, Ayrton Senna. Este sim, faz escorrer lagrimas dos olhos de meu pai, que faz questão
de citar vários capítulos da história do tricampeão. Como seu primeiro podium,
conseguido a bordo de uma Toleman, debaixo da chuva de Mônaco. Ou a vez em que
guiou sua McLaren com apenas duas marchas à vitória em Interlagos. Lembranças
de Senna não faltam, e eu, mesmo sem ter acompanhado tais momentos,
visualizo-os mediante os depoimentos que ouço.
Hoje, ainda que com toda essa ‘‘parafernália
tecnológica’’, expressão que meu pai insiste em usar, sou capaz de assistir a
muitas corridas de alto nível, como a última, o grande prêmio de Interlagos de
2012. Vettel, que chegava à corrida como atual bicampeão, precisava de um
quarto lugar, no mínimo, para garantir mais um título. O único que poderia
tirar tal feito dele seria Fernando Alonso, caso este conseguisse uma
combinação de resultados. Logo na largada, Alonso pula para quarto lugar, e na
terceira curva, Vettel é tocado. Na contra mão, o alemão vê o restante dos
carros do grid passar por ele. Aquela imagem do carro da Red Bull virado no
sentido contrário, sendo ultrapassado por todos, certamente fez até o mais
entusiasta torcedor pensar que o título não fosse mais possível. Principalmente
depois de, uma volta mais tarde, a equipe anunciar à Vettel que as avarias no
carro eram sérias e não poderiam ser consertadas.
Bobagem. Para um piloto do calibre de Vettel, nada é
impossível. Já na terceira volta, o piloto alemão era o mais rápido da pista, e
na nona volta, estava em sexto, o que naquele momento era o suficiente para ser
campeão. Mesmo assim nada estava fácil. A situação da pista era confusa e a
previsão do tempo, incerta. Na volta 53, Vettel entra nos boxes para colocar
pneu para pista seca. Começava a chover, e depois de duas voltas, seu carro
voltava aos boxes para colocar pneu intermediário. Seu comunicador não estava
funcionando, e sem poder avisar à equipe, esta demora para trocar os pneus. Esta
cena dos mecânicos da equipe indo buscar o novo jogo de pneus, deixando Vettel
esperando por preciosos segundos, fez aquele mesmo entusiasta torcedor desistir
novamente.
La
na frente, após um toque entre líderes e um jogo de equipe, Alonso pulava para
segundo. Vettel saia dos boxes em décimo terceiro. Com Alonso marcando 18
pontos, o alemão precisava ser sétimo. Estava seis posições acima disso. Pela
segunda vez na corrida, o título já não era seu. Foi neste momento que a pista
de Interlagos, que já presenciou tantos shows por parte de Ayrton Senna, viu
mais um, desta vez do novo tricampeão do mundo de Fórmula 1, Sebastian Vettel. Com
a pista molhada pela chuva, o alemão segurava o carro, avariado desde a primeira
volta, à medida que precisava de ultrapassagens. Raikkonen, Kobayashi, Vergne,
Schumacher, todos viram passar a Red Bull de número 1, que no ano que vem
continuará com esse número. Vettel terminou em sexto, e se consagrou o mais
jovem tricampeão de Fórmula 1, naquele que foi descrita por meu pai, como uma
das melhores corridas de todos os tempos. Um dia, caso a paixão pela Fórmula 1
se perpetue por mais uma geração em minha família, já tenho história para
contar. Se meu pai enche os olhos de lagrimas e diz que viu Ayrton Senna, eu já
posso encher o peito e dizer: Eu vi Sebastian Vettel.
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Yuri Coghe Carlos Silva
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